Eu devo ter algum problema, alguma coisa muito séria. Devo ter nascido com uma
tatuagem na testa escrita "Não se aproximem, sou uma babaca
metida", porque na boa, só isso explica. Desde pequena, pequena mesmo
tipo no maternal, eu entrava em uma sala de aula e todas meninas me olhavam
tipo "eca, lá vem ela". Cara, uma criança inocente e pura??? Como
assim??
Com o passar dos anos a coisa piorou,
afinal, o instinto de
competição das mulheres só vai se aguçando; quando entrei para a primeira
série, eu fui para um colégio totalmente novo em que eu não conhecia ninguém.
Tá, tudo bem, tudo numa boa. Ninguém me odiava,
AINDA. Até que a
espertinha aqui resolveu escolher o menino que todas as garotas da sala eram
apaixonadas pra ser meu paquerinha
(poxa genten ele era lindo), e
adivinhem? Ele começou me paquerar de volta (eu to usando o termo paquerar
porque eu era uma criança, não riam ok). Pronto! Conseguiu Isabela! Todas
meninas da sua série te odiavam
(noooovidade!). E isso se estendeu
até a minha quarta série. Eu andava com os meninos, eles eram os melhores amigos
do mundo e eu não senti falta de amiga nenhuma, de verdade. Nunca fui do tipo de
mendigar amizade ou de me fazer de boazinha para que todos gostassem de mim. Sou
patricinha? Sou sim, gosto de me arrumar, passar uma maquiagem e confesso ser um
pouco fresca para algumas coisas. Mas o lado que ninguém conhecia de mim
(uma pena) era o lado palhaça de ser, de falar besteira e de
brincar igual um homenzinho na rua. As pessoas gostam de julgar por aparências,
odeiam alguém só pelo que veem por fora. "Nossa que patricinha nojenta, fútil,
escrota, antipática" (parece que esses adjetivos acompanham necessariamente o
termo patricinha né?). Eu não tenho problema com quem não gosta de mim, mas
quero que você não goste de mim depois de me conhecer, depois de conversar
comigo; aí sim você tem todo direito de dizer: "Nossa, que garota
ridícula".
Mas enfim, me mudei para outro colégio na quinta série e a
saga continuou. Eu tinha um grupo de amigas bem patricinhas
(a gente se
vestia igual, me joguem pedras) e é óbvio que ninguém gostava da
gente. E tá, dessa vez eu merecia. A gente não dava espaço pra ninguém
entrar na panelinha e nos vestíamos iguais
(meu deus eu estou me odiando
por contar isso)! Mas quem nunca teve uma fase ridícula dessas né? De
ter seu grupinho de amigas restrito e se acharem as
lindas e
boas por isso? Ainda bem que isso passou rápido.
Na sexta série
me mudaram de sala e eu fui para a sala dos nerds do colégio. De início achei
que não fosse me adaptar, sério. Mas na real? Foi a melhor coisa que aconteceu
comigo.
Fiz amigos que nunca imaginaria fazer e conheci pessoas incríveis
que estavam ao meu lado o tempo todo e eu nunca notei porque estava ocupada
demais sendo uma idiota combinando roupa com as amigas.
Aprendi a conhecer as pessoas antes de julgá-las e mudei muito meu jeito de ser
(me lembro que tinha uma menina na sala que era filha de uma faxineira do
colégio e só por isso ninguém conversava com ela; que coisa mais escrota, sério.
Bem, ela virou minha melhor amiga).
Mudei a cabeça de muitas pessoas que me
consideravam uma garota vazia e percebi que nada melhor do que surpreender as
pessoas.
O tempo se passou e eu fui para a tão esperada faculdade. Eu
era uma nova pessoa, na boa.
As bobeiras de ensino médio tinham ficado todas
para trás, eu não tinha mais aquela idiotice de "ai, odeio essa garota!"; um dia
todo mundo cresce né? Não. Eu cresci, mas pelo visto muitas pessoas ainda
não. Assim que entrei na sala já tinham montado um fã clube "Eu odeio a Yana". Nunca tinha visto aquelas pessoas na vida, nunca tinha conversado com
elas por falta de oportunidade, e eu não ia nas festas da turma pois achava elas
muito promíscuas (era muita putaria genten, não dá.) e por isso eu era
a
antipática. Acreditam que uma vez fui perguntar para uma garota porque ela
não gostava de mim assim, de graça, e ela me respondeu "Você nunca vai nas
festas, parece que está esnobando a gente." Hello? Eu namorava, me dava o
respeito e não ia me acabar descendo na boquinha da garrafa nessas festas não.
Mas percebam que: eu não era a única da sala que não ia nas festas, mas eu
era a única que eles odiavam por não ir. Vai entender? Esse povo da minha
faculdade realmente superou todos os níveis de criancice possíveis que eu já
vivenciei. Era de dar dó o tamanho da falta do que fazer. Me lembro que um dia
fui com um sobretudo rosa na aula (estava muito frio e só pra constar, eu tinha
aquele sobretudo há 3 anos), e vocês não vão acreditar.
Neguinho tirou foto. Isso mesmo que você leu.
Tiraram foto e publicaram no Facebook que eu estava em um desfile de moda.
Na boa? Eu não tenho nem comentários.
Acho que o que mais incomoda na minha
personalidade é que eu não dou a mínima pra esse tipo de atitude, desde
pequena aprendi lidar com críticas de pessoas que não me conhecem e graças a
minha mãe, pessoa tão sensata, eu sei que não devo me importar com
isso.
Chega um dia que a gente cansa de tentar mostrar que não somos tudo
aquilo que as pessoas pensam. Eu não sou metida, não sou antipática, mas ok,
você acha? Então faço questão de passar de nariz empinado do seu lado, afinal,
nada que eu faça vai mudar o que você pensa. Né? Porque pessoas assim querem
arrumar um motivo para não gostar, não importa que você seja a madre teresa de
calcutá, esse tipo de pessoa sempre vai arrumar um motivo para criticar.
O que vale é o que seus amigos acham de você. Se eu fosse uma
pessoa ruim (como acham que eu sou), eu não teria tantos amigos e não seria tão
amada. E é isso que me consola e sempre me consolou.
Pra cada pessoa que fala
mal de mim, tenho dois amigos que me defendem. Então quer saber?
Pode
falar, pode tirar foto, pode me odiar, fazer fã clube, colocar minha foto na
parede a atirar dardos em cima. Enquanto você se descabela se preocupando
com a minha vida, eu to aqui, ouvindo uma música, conversando com a minha melhor
amiga sobre o que vamos fazer essa noite e nem sei quem você é.
Já
tentaram olhar para o sol sem se sentir incomodados? Pois é.
Tudo aquilo que
reluz demais incomoda as pessoas. Um sorriso verdadeiro, amizades verdadeiras,
ser amada pela sua família e andar sempre de bem com você mesma; é isso que
incomoda. Pessoas infelizes não suportam ver a felicidade do outro.. Mas que
se dane, eu não me importo. Não mais.